Autor: Cláudio Domingos
Um dos princípios mais elementares da sociologia
é a natureza gregária do ser humano. Não
existe sociedade de uma só pessoa. As pessoas
precisam agrupar-se para conquistarem seus objetivos,
realizarem suas metas, transformarem seus sonhos em
realidade. Praticamente tudo que um ser humano precisa
só pode ser conseguido através de outro
ser humano. E para conseguirmos que outras pessoas nos
dêem o que queremos precisamos aprender a comunicar
de forma eficaz.
A dificuldade na comunicação é
responsável por praticamente todos os desastres
da humanidade. A pessoa comunica alho e o outro entende
bugalho. Se o volume da televisão está
baixo, pode não ser suficiente dizer: “a
televisão está muito baixa”. Algumas
vezes é imprescindível dirigir-se ao receptor
da mensagem e dizer em alto e bom som: “você
poderia aumentar o volume da televisão?”.
Alto e bom som, não significa gritar. Precisamos
estar atentos ao volume da nossa voz e as expressões
do nosso rosto, bem como nossa postura, e atitude enquanto
falamos.
O simples fato de eu ter falado a frase acima de forma
clara e explícita não implica necessariamente
que o meu interlocutor compreendeu exatamente o que
eu estou querendo dizer. Se fiz o pedido e não
obtive a resposta esperada, alguma falha houve no processo
de comunicação. Na maioria dos casos,
o emissor da mensagem assume que o receptor está
de má vontade, está zangado, acordou com
o pé esquerdo... Porém, assumir esses
pressupostos como verdadeiros é correr o risco
de contribuir de forma desastrosa para o colapso do
processo da interação social no evento
da comunicação.
O significado da mensagem é a resposta que você
obtém. Se comunico alguma coisa para o meu interlocutor
e obtenho uma resposta diferente do que eu esperava,
não posso tirar conclusões precipitadas
e pensar que o outro está de má vontade,
está zangado, mau humorado... Preciso verificar
o motivo porque o outro não atendeu a minha solicitação.
Ele pode não ter entendido o que falei, apesar
de eu pensar que falei de forma clara suficiente, posso
ter falado baixo demais, a pessoa poderia está
distraída, mesmo olhando para mim, está
ouvindo seus próprios pensamentos.
Não se pode descartar a possibilidade de o interlocutor
está realmente se recusando a atender a nossa
solicitação. Mas essa deve ser apenas
um aspecto a considerar, e não antes de serem
eliminadas todas as outras possibilidades.
Mas mesmo quando fica claro que o outro não
quer nos atender, isto não implica necessariamente
que esteja de implicância, que esteja contra nós,
que seja nosso inimigo. Muito mais do que julgar a reação,
precisamos nos esforçar para compreender a intenção
por trás da ação. Todo ser humano
age para atender aos seus interesses pessoais, o que
parece egoísta à primeira vista. Mas é
importante sabermos que cada interesse obedece a um
propósito maior que NUNCA fica explícito
no comportamento.
Portanto, antes de julgarmos as pessoas por suas ações,
devemos procurar descobrir qual é o verdadeiro
propósito por trás da ação.
No caso da televisão, você pode está
querendo aumentar o volume para ouvir o noticiário,
ou mesmo a novela, que são os seus interesses
do momento. Mas esses interesses atendem a um interesse
maior de ficar bem informado com os acontecimentos do
mundo, interesse esse que se conecta ao propósito
de vida de viver uma vida plena, feliz. As ricas imagens
da programação, os bilhões de combinações
de cores, junto com as vozes das pessoas, os ruídos
de fundo, a música..., tudo pode somar ao seu
propósito maior de ser feliz.
O interlocutor também quer ser feliz. E infelizmente
os bilhões de cores que tanto lhe agradam, podem
ser altamente agressivos aos seus nervos óticos.
As mesma voz belíssima daquela atriz maravilhosa
poder soar como uma verdadeira agressão aos tímpanos
do outro. O noticiário da guerra do Iraque que
você está procurando acompanhar com tanto
interesse, poder ser tudo que se desalinha com o ideal
de um mundo de paz da outra pessoa. Se fere o interesse
da pessoa naquele momento, certamente vai ferir o seu
propósito maior escondido no comportamento aparente.
Há ainda outras coisas a analisar: a outra pessoa
pode estar cansada, com dor de cabeça; pode estar
querendo refletir, vivendo problemas pessoais que não
está conseguindo gerenciar devidamente. E tudo
o que ela não está querendo é ver,
muito menos ouvir televisão, o que contraria
os seus interesses daquele momento, que estão
alinhados com o propósito de uma vida plena e
feliz.
Quando analisamos as dificuldades da comunicação,
seja por falha no processo comunicativo, ou por questões
de divergências pessoais, podemos facilmente concluir
que a maioria dos conflitos resultam da falta de reconhecimento
das necessidades do outro por uma das partes. As pessoas
defendem os seus interesses pessoais com tanta veemência,
não por uma questão de egoísmo,
mas pela mera necessidade de preservar a própria
vida e o seu direito de ser feliz. É importante
lembrar que assim como defendemos nossos interesses
por uma questão de sobrevivência, a outra
pessoa também defendendo a própria vida
quando defende seus interesses.
.
Comunicar é negociar interesses imediatos para
alcançar resultados de curto, médio e
longo prazos, que se alinhem com nossos propósitos
maiores de existência. Aprender a ler nas “entrefalas”
o que o outro realmente quer quando comunica alguma
coisa é imprescindível para o sucesso
na comunicação. Mais importante do que
qualificar o outro de egoísta por estar defendendo
os seus interesses é negociar um meio de atender
os nossos próprios interesses, ao mesmo tempo
em que respeitamos e valorizamos os interesses da outra
pessoa.
Cláudio Domingos
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